Valéria Gurgel
"Ficção, Romance, Emoção, Aventura e suspense"
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Textos
Histórias pra boi dormir...

Um dia me contaram que eu sou fenomenal. Que fui feito de barro, esculpido, soprado, ganhei força, ganhei vida, forma e tal...
Mas um dia já me falaram que não. Que eu vim de muito longe, lá do céu. Que um pássaro gigante veio voando e me jogou assim ao leo. O pássaro se chamava cegonha. E eu todo pelado, caí nos braços da minha mãe, morrendo de vergonha...
Eu tentei acreditar. Até que um dia me falaram que um avião passou voando baixinho bem pertinho do telhado da minha casa! E mamãe gritou assim:
- Avião, joga um bebe pra mim! E o piloto me jogou da janela!
Essa foi demais! Como não me esborrachei ao chão??? Essa não deu pra acreditar!
Mas aí, eu fui crescendo... Crescendo... Como pé de feijão. Por favor, não me confundam, pois eu não me chamo João! Mas me falaram, que papai, deu mamãe uma sementinha. E a barriga dela começou a crescer... Crescer... O pior é que me disseram que eu estava la dentro.Mas ninguém até hoje me explicou como eu saí. So sei que fui por aí...
Eu cresci ouvindo histórias! Histórias pra boi dormir!
Imagina que vovó dizia que se eu engolisse caroço de laranja, ia nascer um pé da fruta dentro da minha barriga!Se comesse doces antes do almoço, eu teria lombriga. Que se tomasse leite e comesse manga, morreria envenenada. E que se brincasse com fogo de noite, amanheceria com a cama molhada!
Se respondesse minha mãe, nasceriam pelos em meu corpo e se olhasse para trás depois da meia noite eu veria o boto e ainda poderia ficar torto!Vovó jurava que se desse um presente a alguém e pedisse de volta, ficaria corcunda e que se não obedecesse a minha avó, eu ainda levaria chineladas na bunda!
Falar palavrão era pior que ser ladrão! E ser ladrão? Nem pensar nisso não!! Pois tão logo ficava sem mão!
Me falavam que se quisesse passar de ano, era só levar uma flor para meu professor!
Papai que era machão acreditava nisso não. Mamãe que era de fé, dizia: -Quer acabar com seu chulé??? Reza pra São Tomé! E não deixava a gente tomar banho sozinho. Dizia: - Mulher com mulher dá jacaré e homem com homem dá lobisomem; meninada que se juntam, somem e só dá muita dor de cabeça e bicho de pé!
Minha madrinha me dizia que as nuvens eram de algodão!E eu sonhava caminhando sobre elas, imagina que emoção?Que se eu interasse moedas, nasceria uma árvore de dinheiro. Imagina que desespero?
Meu tio afirmava que papai Noel, quando não conseguia descer pela chaminé da lareira na noite da ceia, passava pelo buraco da fechadura e que ele fazia um contorcionismo tão grande que tinha que deixar para ele, dentro da minha bota, um pedaço de rapadura! Que tortura! Na noite de Natal eu cobria a cabeça e não olhava para a porta com certeza e o medo de ver o velho momo do céu a embrulhar com papel os meus brinquedos em segrego?
A minha outra avó dizia que quem nasce de dia é branco e quem nasce de noite é negro.Mas eu vivia intrigado: - E quem nasce em dia nublado?
Minha babá para eu comer banana tinha um monte de manha. Para comer verduras, me deixava fazer travessuras!
Mas para eu comer frutas, fazia cara de bruxa! Eu ria... Comia... E nada entendia.
Um dia me falaram que eu gostava de ouvir histórias...
Assim, me contaram histórias pra boi dormir!
Mas eu não era um boi, era apenas um menino!
Não tinha tanto sono, nem medo de caretas!
Então, eu cantei:
-Boi... Boi... Boi... Boi da cara preta...
Boi...Boi...Boi...
E quem me contou tanta história, dormiu.

Valleria Gurgel
23 de Julho de 2013.

 
Valéria Cristina Gurgel
Enviado por Valéria Cristina Gurgel em 15/08/2013
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