Valéria Gurgel
"Ficção, Romance, Emoção, Aventura e suspense"
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Textos

O susto da beata!!!! “Conto cômico”

Dona Maria da Piedade, uma boa e virtuosa senhora, já na faixa dos sessenta e oito anos de idade. Casada, porém, já viúva, mãe de três filhos. Vivia num barraco, nos fundos do terreno comprado de meia com sua cunhada, que morava na casa da frente e também tinha três meninas. A do meio, já com seus doze anos, de nome Celeste, sobrinha de seu falecido marido, o seu Batista. A menina, muito peralta e brincalhona, adorava escutar as histórias dos santos de devoção de Dona Maria da Piedade. E sua Santa predileta, era Santa Terezinha, visto que possuía um hábito igualzinho, feito pela sua avó, para a coroação da imagem nas festas de sua escola, na qual a santa era a padroeira! Dona Dade, muito religiosa, foi carinhosamente apelidada pela jovem menina de “papa hóstia”, pois a beata não saía mesmo da igreja! Assistia três missas por dia! A das sete, a das nove e a das dezenove horas! E comungava todos os dias, inevitavelmente! Acordava cedinho, todos os dias para limpar e enfeitar o altar da igreja! Da pacata cidadezinha onde vivia. E quando não conseguia rosas em seu jardim, saía de casa em casa pedindo flores para levar para nossa senhora! Depois passava na casa do vigário, o padre Onório. Deixando para ele, o café cuado e broa de fubá que ela fazia e levava para a casa paroquial todos os dias!.Lavava todas as suas batinas e até os forros da igreja! Limpava também toda a casa! Sem cobrar nem um centavo! Dizia que era por amor a Deus, Jesus, Maria e José. Foi também consagrada, filha de Maria. Muito caridosa e prestativa, a boa velhinha vivia dizendo para a jovem Celeste, que seu maior sonho, era ver nossa senhora! Seria esse o dia mais feliz de sua vida! Ensinava à menina a colocar uma flor na janela de seu quarto à noite, no mês de maio, que segundo a igreja católica, é o mês dedicado à nossa senhora; que a santa, passaria abençoando os lares e ia ajudar-lhe a encontrar um bom marido, quando crescesse. Pois bem, a menina preparou uma surpresa para a velha. Eis que mexendo nas gavetas do guarda roupas de sua mãe, encontrou sua velha roupa de Santa Terezinha, amassada, meio amarelada de ficar guardada e cheirando a mofo. Ainda dos tempos que coroava a santa em sua escola, quando tinha uns oito anos de idade.
Pensou:
- Vou realizar o sonho de Dona Dade! - e assim o fez.
Separou a roupa, com o cuidado para não esquecer nenhuma peça, abriu-a debaixo da cama, para desamassar um pouco e sair o forte cheiro. Ninguém poderia ver aquela roupa, pois poderiam contar para a Dona Dade e aí ela não iria acreditar que tivesse recebido o milagre da aparição da santa. Imaginou que bem no finalzinho da tarde, seria o momento ideal para se ter uma visão celestial. E então, lá pelas cinco e meia, ela se escondeu atrás da casa e vestiu a roupa de santa Terezinha. Essa estava meio “pega frango” e um pouco apertada, afinal a garota já estava ficando mocinha! Já começava a escurecer e um vento frio soprava no pé de abacate, já provocando sombras ao redor do barracão, ofuscando a luminosidade do poste da outra rua que passava bem atrás do quintal. Logo, veio vindo dona Dade, para apanhar as roupas que estavam sobre o imenso quarador, feito de tela de aço espichado em umas ripas de madeira, no fundo do terreiro, lá atrás, próximo ao galinheiro. Ela, cantarolando uma conhecida música de seu repertório litúrgico:
- “Deixa cair oh! Santinha sobre nós, uma chuva de rosas....”
Foi apanhando peça por peça de roupas brancas e amontoando-as uma a uma sobre seus braços. Assim ela foi caminhando lentamente, sobre o cumprido e estreito passeio que contornava sua humilde casinha. Ao chegar à esquina da entrada de sua cozinha, bem no canto da parede, em pé sobre um toco seco de abacateiro, lá estava Celeste, vestida de santa Terezinha. Mãos postas, com um terço dependurado e algumas flores de margarida e dálias amarelas presas junto a ele. Olhando para o céu, rosto angelical, serena e calma.
Dona Dade veio se aproximando e ao deparar-se com aquela cena angelical, deu um berro e num pulo, jogou todas as peças de roupas para o alto e logo em seguida estatelou-se ao chão!
A menina completamente desconsertada ficou tremendamente desesperada ao ver a pobre senhora lá, caída ao chão, como morta. Logo, veio chegando seu pai, sua mãe e suas outras duas irmãs que não sabiam se acudiam a velha ou se riam da situação! Todos tentavam inutilmente fazer a velha recobrar os sentidos. O pai de Celeste que era enfermeiro esfregava álcool nos braços, nas mãos e nos pés de dona Dade, fazendo-a voltar a si. Com muito custo, depois de quase uns dez minutos de tentativas em vão, ela enfim abriu os olhos e ao se deparar com a menina ainda vestida de santa, desmaiou novamente.
Foi quando os pais da jovem perceberam que ela estava com aquela roupa estapafúrdia e que poderia ter sido esse o motivo de tamanha confusão. O pai apanhou uma enorme vara de marmelo e ameaçou de bater na menina se ela não fosse logo tirar aquela roupa e explicar o que tinha realmente acontecido. Celeste estava muito constrangida, pois não pensava causar tantos problemas. Foi para o seu quarto, se trocar.
Quando voltava para saber notícias da senhora, encontrou-a sentada em uma cadeira, bebendo uns goles d’água e contando a todos que acontecera um milagre! Que ela tinha visto santa Terezinha em cima do toco do abacateiro! Era mês de maio e ela tinha vindo abençoar a sua casa. Ninguém teve coragem de contar a verdade para dona Dade. Pois acreditava fielmente que havia visto a santa! Como de fato, ela viu! E a partir desse dia, sempre no mesmo horário, o quintal da família fervia de gente rezando o terço e cantando em homenagem a santa Terezinha. Todos ajoelhavam em volta do toco do abacateiro aguardando uma nova aparição. Celeste, de vez em quando, olhava para a roupa de santa e tinha vontade de vesti-la novamente. Mas nunca mais quis brincar com a fé de Dona Dade. E até a jovem passou a acreditar que a santa pudesse mesmo aparecer de verdade. Só esperava que nesse dia, dona Dade estivesse mais preparada para receber o milagre e não desmaiasse como da outra vez! Para esse sim ser o dia mais feliz de sua vida e não o dia mais trágico!!!

Valéria Gurgel.







 

Valéria Cristina Gurgel
Enviado por Valéria Cristina Gurgel em 16/08/2013
Alterado em 27/10/2021
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