Incondicionalmente louco
Valéria A Gurgel
Dizem: - Tu és louco!
Porque não acredito nos outros que tentam diminuir o meu potencial.
Não permito que incutam em minha mente, a corrente desairosa da limitação, do medo e da decepção.
Louco é aquele que acredita ver o que os outros julgam alucinação?
Que conversa com a sua própria razão?
Que escuta o pulsar de seu próprio coração?
E discorda da sua própria convicção?
Ou aquele que escuta a voz do seu inconsciente e ignora a voz do ego e de sua bruta versão clemente?
Dizem-me louco!...
Louco por não me influenciar pela maioria?!
Louco por despertar curiosidades pelas minhas fobias?!
Louco por não ter mais desejos mundanos?!
Louco por ter uma busca transcendental?!!
Louco por perceber que tudo por aqui é tão banal?!
É um mundo de tanta ilusão e a maioria acredita ser real!
Sou louco por insistir em fazer aquilo que ninguém faz?!!
Ou por não fazer o que todos estão fazendo?
Chamam-me de louco porque faço terapias, tomo duchas frias todos os dias para espantar os devaneios que dizem trazer-me a tal da solidão?
Sou louco por gostar de minha própria companhia?
E isso não é idolatria, é apenas a minha mania de seguir em paz.
Chamam-me louco, pelos tarjas pretas que consumo, ou pelos cigarros que fumo pra tentar vencer uma tal de depressão. A doença do século para quem não vive a devassidão. Eu só quero mesmo é viver distante desse padrão.
Chamam-me de louco porque tenho talento e tento sempre ser surreal em minhas expressões de arte, que faço modéstia parte, somente para me curar!
Sou louco? Só porque aprendi às vezes fugir de mim mesmo, ou dessa vida tosca chamada civilização? E mergulhar no papel de minha inspiração, porque ali sou mais que mil vidas em uma só satisfação!
E ainda insistem em achar que só não é louco quem segue a manada desembestada na multidão de Marias, as que vão sempre com as outras, na pura euforia da sua fictícia emoção.
Chamam-me louco se caso e me descaso, se jamais quis me casar, se sou hétero, ou se não sou, se não aprendo como os demais aprendem, ou prefiro desaprender as insanidades que me foram ensinadas, se tenho insônia ou se durmo demais!
Sou louco se estudo, sou louco se sou analfabeto, se me chamo Antônio ou Felisberto, então o que é errado, o que é certo?
Se aceito as crenças limitantes sou limitado, se não aceito sou desregrado!
Se bebo, se uso drogas ou se faço abstinências, se acuso ou se tenho clemência do fulano de tal?!
Se como carne, ou se sou vegano, se sou minhas verdades ou se sou meus enganos!
Se sou religioso, sou fanático!
Se sou ateu, sou dramático!
Se sou eu mesmo em minha mais pura essência, sou lunático!
Preciso então deletar-me, desintegrar-me e não ser mais ninguém para ser normal?!!
Preciso me preservar, para que não me assuste com minhas próprias escolhas, com minhas próprias decisões! Com minhas roupas e meu new look, meu cabelo e meus truques de liberdade para tentar ser mais real.
Só desejo ser eu com todas as minhas bolhas no dedão do pé, de tanto andar por aí, sentar na porta da Catedral da Sé a procura do nada para se ter fé!
Não preciso que me comprem! Valorizem-me como uma joia rara, que me paguem juros por uma amizade cara, que nem sei até onde vai chegar... Já sei de meu valor!
Não precisam investir no ardor de ofertar-me um ramalhete de flor, para eu mostrar a todos que tenho um admirador ou amor!
Amor? O que vem a ser isso afinal? Mas que mundo hipócrita e banal! Louco e falso é isso de se apaixonar e de se morrer por um falso amor!
Isso sim é loucura! Um amor de louco?
Incondicionalmente louco!
Serias tu?
Ou seria eu?
Somos nós?
Sóis vós?
O mundo ficou completamente louco, quando tentou resolver a loucura humana, com as próprias mãos!
A loucura insana dos manicômios sociais, Os hospícios informatizados que nem choques elétricos, ou torturas dos curtos fios de alta tensão são mais capazes de tentar se curar!
Essa é a maior prisão, o maior abandono, a verdadeira alienação, um suicídio em massa na escuridão em meio a multidão!
A humanidade jamais foi normal e está longe de ser! Somos meros aprendizes da arte da normalidade!
Nem todo artista é louco, mas todo aquele considerado louco é um artista anormalizado!
Que num lapso de sua loucura,
ou no ápice de sua ruptura
explode a manifestação da arte de viver a vida simplesmente.
Essa sim, é a mais valiosa arte, e está em toda parte.
Basta que o mundo queira ver, se der tempo!