“Quem fala demais dá boa noite prá donzela!!!”
“Conto cômico”
Juca era conhecido demais por aquelas bandas do alto Paranaíba! Famoso por sua popularidade excessiva, mas que sempre o deixava em maus lençóis! O homem, coitado, tinha a língua solta. Falava demais! Falava até pelos cotovelos! Como diziam as pessoas que o conhecia. Além da sua popularidade, era também um homem muito prestativo. Talvez no intuito mesmo de puxar conversa paralela com as pessoas e poder assim ficar por dentro de tudo o que rolava solto da vida das pessoas daquela região. Assim, ele vivia metido em tremendas confusões, porque a sua língua não cabia mesmo dentro da boca. Mas as pessoas acabavam tendo pena dele, pois na verdade, ele era mesmo muito ingênuo e sem maldade nenhuma. Uns acreditavam que ele era mesmo um fofoqueiro de carteirinha! Outros tentavam o defender dizendo que ele sofria de um distúrbio neurológico de nascença. A verdade é que ele gostava mesmo de se envolver com a vida alheia. Aposentado por invalidez desde os seus vinte e poucos anos, por motivo de um acidente de cavalo, que o deixou com o pescoço meio torto e tombado pro lado. Muitos até zombavam, afirmando que ele entortou o pescoço de tanto ficar se contorcendo para ver pelas janelas, o que estava se passando nas casas dos outros. Mas Juca era gente boa! Muito simples! Sempre alegre e sorridente. Pronto para servir a quem dele precisasse. Gente do povo, gente nossa. Só não sabia mesmo era guardar fofoca.
Morava a muitos anos num quartinho de um porão de um antigo casarão que servia como república para muitos jovens que estudavam na capital próxima daquela pacata cidadezinha do interior. Como já era de se esperar, conhecia e sabia da vida de todos aqueles estudantes que por lá já tinham passado. Tinha amizade com todos e assim, prestava serviços de office boy, colocando cartas no correio, pagando contas em bancos, limpando os quartos dos jovens estudantes, entregando jornais, panfletos para as lojas, lavando carros, motos, mesmo para quem não pudesse pagar pelos serviços prestados. Ele ia assim, ora fazendo favores, ora ganhando seus trocados e levando a vida que gostava de viver. Foi numa noitinha, que um fato curioso ocorreu.
O jovem estudante de nome Murilo, precisava entregar um envelope, contendo uns regulamentos de inscrição para um concurso e datas de provas, na casa de uma jovem que morava em uma cidadezinha próxima, a menos de vinte quilômetros de distancia. Mas ele não podia ir até lá levar a correspondência para ela, porque tinha que ir do trabalho direto para a faculdade. Logo, Juca se prontificou em levar. Murilo entregou o envelope a ele, o dinheiro das passagens e mais uma gorjeta boa para ele se virar com um lanche e lugar para dormir caso não conseguisse voltar no mesmo dia, visto que já era por volta das dezenove horas.
Assim, Juca num minuto, pegava a sua bicicleta dizendo que ia pedalando para economizar o dinheiro da passagem e sobrar mais para ele.
Por volta das vinte horas e quarenta minutos, a campainha da casa de uma linda moça toca insistentemente:
_Quem é? –ela pergunta do lado de dentro da casa receosa por já se passar de vinte horas e não estar à espera de ninguém.
_ Uma correspondência do senhor Murilo – Grita Juca lá de fora.
A jovem muito empolgada abre então a porta rapidamente. Ela estava realmente esperando por aquele envelope. Cumprimentou aquele homem franzino de fisionomia meio estranha. Educadamente o convidou para entrar e ofereceu a ele um café. Ele como era muito desabusado, aceitou. A jovem ficou um pouco constrangida porque havia falado por mera educação. Mas como a sua mãe estava em casa e havia acabado de fazer uma rosca caseira que estava mesmo cheirando por toda a casa, resolveu levá-lo até a cozinha e servi-lo um pedaço do pão com uma xícara de café. Conversa vai... Conversa vem... E Juca já se sentia muito em casa mesmo. Tão logo foi apresentado à mãe da moça e ele já estava a prosear como se as conhecesse de muito tempo. Tanto que já foi logo comentando que Murilo era muito seu amigo, mas que ele estava entrando em uma canoa furada! Que estava completamente apaixonado por uma jovem que se dizia pianista. Veja bem-afirmava ele, - Só porque meu amigo está estudando no conservatório de música ela se diz apaixonada por ele? Claro que ela está interessada na profissão dele e nada mais! –assim ele continuava a falar descabidamente:- só porque o pai de Murilo acabou de comprar um lindo piano para ele estudar, agora essa aí vem dizendo que o ama demais e que ele é o homem de sua vida? Meu amigo é muito bobo não acha? Como ele não pôde perceber meu Deus! É por isso que eu digo que o amor é cego! Essas moças de hoje só querem encostar-se nos caras e tirar proveito do que eles têm para lhes oferecer! Isso quando não arrumam barriga só para extorquir a famosa pensão dos bobões! E assim, ele se empolgou a falar e já estava ficando tarde e nada dele se manifestar que queria ir embora. Deixando a moça e a sua mãe totalmente desconcertada. E Juca não parou por ali:
_ Dizem que o nome dela é Irene! A filha do senhor Paulino taxista! Imagina só se filha de taxista tem condições de estudar música em um conservatório e de comprar um piano? É por isso que eu digo moça, meu amigo vai se ferrar para aprender a deixar de ser bobo! Falta de avisar não é, viu? -Assim, ele ia ficando mais a vontade. Foram quatro xícaras de café e uns seis pedaços de rosca e nada dele ir embora. Acontece que a mãe e a filha já estavam à beira de um ataque de nervos por ter que ouvir aquele sujeito que elas nunca viram antes em suas vidas, falando pelos cotovelos sem sequer saber de quem se tratava aquela família. Nem tão pouco saber em que casa ele havia entrado, sendo bem tratado e tomando café com merenda, como se fosse gente da família.
Enfim, depois de mais de duas horas de prosa sem fundamento, ele resolve se despedir para ir embora. Já se passava das vinte e duas horas! Juca então se levanta, agradece pelo saboroso café com rosca, pedi desculpas pela demora e estende a mão para se despedir da jovem e da sua mãe.
-Boa noite, donzela! Muito prazer em conhecê-la!Você é mesmo muito bela! Mas afinal, como é mesmo o seu nome? – e a jovem muito nervosa responde:
_ Me chamo Irene. Mas eu não sou a filha do taxista Paulino. Meu pai se chama Paulo e tem apelido de Paulinho. Eu sou a pianista, namorada de Murilo!!!
Valleria Gurgel.
Valéria Cristina Gurgel
Enviado por Valéria Cristina Gurgel em 17/08/2013
Alterado em 18/08/2013