O Colecionador
O COLECIONADOR
Valéria Gurgel
Um colecionador tinha por hobby juntar objetos diversos em sua casa.
Nas gavetas, quantas coisas guardadas. Papéis amarelecidos, disputavam um espaço entre as quinquilharias inúteis, mas não para ele.
Chaves, pilhas, cadeados, vasilhames, moedas antigas, selos, chaveiros, tesouras sem cortes, celulares quebrados, baterias descarregadas, relógios estragados, bijuterias e ferramentas enferrujadas, peças perdidas à espera de uma utilidade.
Na sua estante, livros de autores célebres, jamais lidos esfarelavam-se as folhas em meio à poeira e fotos de família que hoje seus olhos já não mais viam.
Sua coleção de preciosos discos arranhados, empenados, seguiam anos, no armário, à espera de uma vitrola sem agulhas, sem autofalantes. O colecionador, não reparou nem a sua própria audição, agora perdida.
No guarda-roupa, roupas mofadas a espera de corpos para vesti-las. Cabides que jamais sentiram frio, se abraçavam no inverno da alma.
Na dispensa, alimentos entravam em decomposição. Não havia saúde para degusta-los nem amigos ou familiares para desfrutar e compartilhar seus momentos.
Nas paredes quadros eram abrigos de aranhas e traças.
No pátio dos fundos da casa, desmontes de anos de vida de inutilidades de bugigangas, se acumulavam tomando o espaço para a vida viva viver.
No jardim, o mato disputava espaço com os espinhos de roseiras sem vida.
O coração acolhia amores que não vingaria!
Na mente reminiscências de um tempo que passou e talvez ele desperdiçou.
Sofreria da Síndrome de Diógenes? Pobre, rico, enfermo, quem seria esse homem de incompreendido passado cheio de necessidades vãs?
Cada objeto ali, armazenava uma coleção de dolorosas lembranças e apego de sentimentos inconcebíveis, nada mais.
Ele era antes de tudo um Coleciona dor.
Valéria Cristina Gurgel
Enviado por Valéria Cristina Gurgel em 01/12/2020