Valéria Gurgel
Stephanie estava demorando mais que o esperado. Muito fora de nosso combinado, que era da escola direto para casa. A escola era apenas duas ruas abaixo de nossa casa numa pacata e pequena cidade do interior das Minas Gerais.
Claro que mãe só pensa o pior. Sair ao encontro da filha seria o mais óbvio de se fazer. Mas não foi preciso. O portão bateu, era ela. Bochechas coradas, muito suada e coçando os braços, a barriga e o pescoço. Vinha com sua mochila pesada nas costas, a merendeira do lado e trazendo nos braços um cachorrinho muito gordo de mais ou menos uns três meses de idade. Disse que deu o nome para ela de Priscila, porque tinha olhos verdes como os de sua amiga.
Quando a tomei em meus braços pude ver a quantidade de pulgas que desfilavam na blusa, outrora branca, do uniforme de minha pequena. Parecia uma procissão. Já não sabia de onde vinham mais pulgas, se da pobrezinha da Priscila ou da maluca da Stephanie.
Demos um bom banho e fizemos coleção de sanguessugas em um pote com álcool. Chegamos a contar cento e trinta. Acredito que tinha até a geração das tataravós das pulgas ali. Compramos ração e demos para ela, estava faminta. Arrumamos uma casinha e cobertor para ela se enrrolar e dormir.
Quando enfim, já estava pensando em aceitar a ideia de criar a Priscila, logo a noite, seu dono apareceu!
- Disseram que sua filha pegou a minha cachorra que havia fugido para a rua!
- Ah sim, claro! Ela ama animais e pensou que a pobrezinha estava perdida.
- Sinto muito, mas devo levá-la! – disse o senhor, - obrigado pelo banho dado, ela realmente estava precisando!
Stephanie a entregou com lágrimas nos olhos.
Acredito que a nós coube mesmo fazer somente uma boa ação para o pobre bichinho, estava muito mal tratado! E guardar em nosso caderninho de recordações o nome de mais um entre todos os peludos de quatro patinhas que por alguns bons momentos nos encheram de pura alegria!