Valéria Gurgel
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Textos

Filosofando acerca do silêncio

FILOSOFANDO ACERCA DO SILÊNCIO

Por Valéria Gurgel

22 de fevereiro de 2022

Contemple uma flor…

Viu? Deus está nos silêncios…

Por que o grito?

(Haicai – Leandro Bertoldo Silva)

 

“Comunicar não é produzir ruídos.”

Parafraseando essa máxima citada é que começo a refletir sobre o silêncio. Qual a sua verdadeira importância? E o que esse “tal do silêncio” tem a nos dizer?

Dialogando com meu digníssimo amigo das letras, Leandro Bertoldo Silva, acerca do silêncio, ele também se referia a outra máxima, essa de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa que diz: “Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito, é preciso também que haja silêncio dentro da alma”.

 

Todos nós, salvo alguns que possuem alguma deficiência da voz, ou da audição, nascemos com esse privilégio de desenvolver a capacidade de falar e de ouvir. E para isso desenvolvemos também o raciocínio, que nos permite pensar, analisar e construir uma conversação, o que nos difere dos animais.

 

Confesso que já tive muita dificuldade em entender o silêncio em sua subjetividade. Já me senti completamente esgotada ao escutar a um monólogo o tempo todo e principalmente se não tem discernimento daquilo que diz, é uma experiência bastante fatigante. Mas, é nesse processo de aprender a escutar, que treinamos o valor do ouvir e consequentemente o do silêncio. Afinal ninguém pode ouvir o outro de verdade se não se abster da ansiedade de abrir a boca, interrompendo o suposto interlocutor.

 

E quantas vezes atropelamos as conversas porque mais que querer ouvir o que o outro tem a nos dizer, queremos falar e falar e falar. E geralmente é nesse momento, que quem fala demais se equivoca ou se complica, ou até mesmo passa vergonha em diversas situações envolvidas. E às vezes nem percebe! Enquanto que o ouvir, muito nos ensina e só nos compromete quando decidimos abrir a boca, sem antes pensar.

 

São muitos os provérbios construídos sobre a temática do falar e do ouvir, e os ditos populares são também muito verdadeiros. “Boca fechada não entra mosquito,” “Palavra é prata e silêncio é ouro,” ou “Quem fala demais dá bom dia para cavalos,” e tantos outros mais… Sem contar que o nosso próprio corpo sinaliza tudo isso, uma vez que nascemos com dois ouvidos e apenas uma boca!

Silêncio não é mera ausência de palavras, nem sinônimo dos introspectivos. Silêncio consciente e estruturado é virtude dos sábios.

 

Muitos de nós efetuamos conversas clonadas, porque pensar dá trabalho. E seguimos tagarelando. Na verdade, não desenvolvemos a capacidade de tampouco ouvir à nós mesmos quem dirá aos outros.

 

Nessa ânsia desenfreada de falar, sem prestar atenção ao conteúdo proferido, vamos jogando palavras ao vento e desaprendendo mais que nunca a nossa capacidade de discernimento e absorção através do ouvir.

 

Comecei a entender o valor do silêncio, quando comecei a gostar mais de ouvir que de falar. Observando calada e atentamente os encontros familiares, as rodas de amigos, os debates em escolas, as mesas de bares, as praças de alimentação, os pontos de ônibus, filas de bancos, bancos das praças, e diversos estabelecimentos comerciais aonde se aglomeram pessoas. E percebi que o repertório falante é muito repetitivo e fútil.

 

Geralmente os temas giram em torno de si mesmo, numa extrema egolatria, ou da vida daquele que está ausente.

Se todos de um grupo estiverem ali presentes, de que vão falar afinal? Quanta superficialidade e falta de vida interior existe entre as pessoas!

 

Assim, é perceptível que realmente o silêncio seja ouro diante a tantas palavras de bijuteria enferrujadas, ruídos sem nenhum valor, murmúrios falantes de meras frases baratas são cuspidas e até escarradas a todo momento.

 

Não me refiro aqui, a nenhum silêncio forçado, forjado, ou associado à frustração, desgosto, mal humor, ou o dito popular; do engolir palavras. Falo do silêncio de raiz, de lucidez que tudo diz, ainda que calado. Muitas vezes na paz de um sorriso, de um olhar, da sabedoria que transcende o sábio no diálogo profundo consigo mesmo dentro de seus olhos.

 

Aquele diálogo interno do autoconhecimento. Que pensa antes de abrir a boca porque tem plena consciência que se o que tiver que ser dito não for melhor que o silêncio, que não diga! É desse silêncio que me refiro. Silêncio dos ruídos externos e internos. Tal como um esvaziamento dos excessos da alma turbulenta, uma calmaria que começa na mente através também da prática da meditação.

 

Uma palavra pode significar uma vida! Como já foi citado no Clássico Budista Dhammapada, que se refere ao Sidarta Gautama, “mais do que mil palavras sem sentido, vale uma única palavra que traga consolo a quem houve.“

 

De tantas milhões e milhões de palavras proferidas por nós a cada dia, se pudéssemos filtrar e recordar todas elas, será que no fim de um dia, de uma semana, de um mês, de um ano ao menos, filtraríamos “aquela palavra” que poderia justificar a nossa existência?

Se sim, já valeu a pena ter vivido!

 

Preocupante é não percebermos isso o mais cedo possível. Antes mesmo que nos comprometamos nas relações familiares, afetivas, no ambiente laboral, na sociedade em geral e na maioria das vezes por termos a infelicidade de falar algo que não tenha passado pelo crivo das três peneiras, como assim, já se referia o grande filósofo Sócrates.

“O que será dito é bom? É justo? É verdadeiro? Se não for que prevaleça o silêncio”!

 

Os grandes seres humanos que por aqui passaram, tinham bem expandidos essa percepção do silêncio, e o quanto ela pode ser importante para dizer muito de nós mesmos. Quando se aprende a calar, e ouvir a si mesmo, ouvimos o outro. E aprendemos a ter cautela, dar tempo para o entendimento refletir e interpretar, para somente depois, questionar a razão.

 

Há os dois extremos nesse mundo dual.

Imagina um mundo sem sons? Ou uma melodia sendo executada sem pausas? Sem nenhum momento de silêncio para percebermos o contraste entre os sons? Chegaria um dado momento que estafaria os nossos ouvidos.

 

Por outro lado, seria possível toda a humanidade entender bem uns aos outros sem emitir ou ouvir nenhum tipo sequer de som?

Assim como o vazio existe para que as coisas se acomodem, se ajeitem no espaço, o silêncio existe para que as palavras e os sons possam ser emitidos, cautelosamente, ordenadamente, e absorvidos, escutados, apreciados e compreendidos.

 

Chegará um tempo, em que a humanidade aprenderá enfim a congraçar seus preciosos sentidos, como dizia Hermes Trismegisto, em O Caibalion, e “Os lábios da sabedoria só se abrirão para os ouvidos do entendimento”.

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** Grato pela sua leitura. Compartilhe este texto com seus amigos e aproveite para refletir… Qual é o seu maior silêncio?

Forte abraço!

Valéria Gurgel

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Valéria Cristina Gurgel
Enviado por Valéria Cristina Gurgel em 22/02/2022
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