- Pé pouco, mão muita, cabeça nunca!
Cresci ouvindo essa frase, proferida por ela, mas, quando criança, impossível entender!
Saudosa tia Maria Luiza, irmã mais velha de minha avó materna. Nascida em 1900.
Sempre cantando, sempre sorrindo e preparando suas geleias de mocotó, de amendoim, que vendia feliz , carregando seu balaio de palha, coberto por um tecido vermelho, xadrez, pelas ruas estreitas de nossa terra amada, carinhosamente chamada de a Cidade Encanto, Itabirito, outrora, Itabira do Campo.
Quando sentiu-se madura, trançou seus longas cabelos. Nunca mais os lavou! Entrelaçou junto todas as memórias de sua ancestralidade. Fez um robusto coque e como numa madeixa, acolheu a sua paz.
Nunca namorou, jamais se casou. Não teve filhos. Gerou muitos afetos, no largo da vida, cultivando o amor e a fé de suas gerações.
A força do Sagrado Feminino daquela grandiosa mulher pequena esteve sempre presente, cultivada a seco, fio a fio. Era o que lhe dava força para cuidar de todos que fizeram parte de sua história.
Aos 94 anos, para facilitar os cuidados necessários, cortaram seu cabelo e o lavaram.
E aquela frase quase centenária se calou, numa manhã fria de inverno.
Ficou o jargão para sempre guardado em nossa memória e em nosso coração...
"Pé pouco, mão muita, cabeça nunca"!
Valéria Gurgel