Valéria Gurgel
A minha história não começou em Paris. Na verdade, nem conheço a Europa. Mas, sem que eu pudesse ter direito de escolha me deram um nome francês. Imagina, que nem eu sei bem pronunciar. Escrever? Tampouco! Ainda não me matricularam nas tais escolinhas para Pets. Só me falta essa agora porque até em hotelzinho já me levaram para ficar. Não gostei muito, prefiro a casa de vovó. Lá sim é bem divertido. Ela me dá carinho, me leva para passear na praça e também de carro e ouço músicas relaxantes dia e noite. Eu fico tão relex e nem vejo a vaca ir para o brejo.
Vovó também me dá banho, escova meus dentes, penteia meu cabelo toda hora, só morro de raiva quando puxa minhas madeixas louras para fazer aqueles penteados de madame.
O cardápio também é de primeira. Como frutas, amo! Ração com sachê e arroz. Humm e sempre ganho um pedacinho de queijo que delícia.
Bem, mesmo sendo conhecida por Maria melhor dizendo Maria Francesa, eu me chamo Marie. Sou bem pequena, mas esperteza e inteligência tenho de sobra, disso não duvido e nem meus avós e minha mãe. Eles se dizem meus tutores, mas nem sei bem o que isso quer dizer porque dizem Marie, vem com vovó, Marie, vem com vovô, vamos lá buscar a mamãe.
Nasci numa cidade chamada Itabirito. Lá vivi uns dois anos em meio de uma turminha da pesada. Era eu a única fêmea em meio a quatro machões. Com eles aprendi plantar bananeira para fazer pipi. Há, tinha também uma felina linda, preta como ébano, de pelo brilhante, de nome Layla. Foi com ela que eu aprendi a pegar passarinhos. Era mesmo uma diversão, a gente aprontava muitas loucuras naquele casarão no alto de uma montanha.
Mas um dia, minha mãe, a tal tutora resolveu se mudar de lá e me levou para casa de minha avó em outra cidade. Confesso que chorei. Senti muitas saudades de minha antiga casa e de minha mãe. Mas, aos poucos estou me adaptando; não faz muito tempo isso não.
Fiquei sabendo que minha avó queria escrever minha história para ler para um grupo de escritores que ficam conversando um tempão pelo computador, todas as quintas feiras, então eu contei resumidamente para ela um pouco da minha vida na minha forma canil de ver o mundo.
Espero que eles gostem de minha história até aqui, porque ando vivendo muitas aventuras nos últimos tempos e sinceramente não penso mais em voltar para casa de mamãe.Ainda mais que fiquei sabendo que ela vai viver em uma gaiola! Com um nome esquisito: AP! Eu nem imagino o que isso quer dizer!
Depois seguirei contando para minha avó algumas peripécias mais. Ela vai se arrepiar quando souber que eu briguei com um gato que invadiu a nossa casa outro dia e sai bem estropuada da confusão. E que por muito pouco eu ia fugir para o Rio Grande do Sul dentro da mala de uma amiga de meus avós que aqui chegou. Incrível, ela era bem parecida comigo, lourinha como eu, e nos demos tão bem! Mas isso deu pano pra manga quando minha mãe ficou sabendo, au...au... e ficará para uma próxima vez!
Vou tirar uma soneca aqui em baixo da mesa do escritório de meus avós porque o ventilador está ligado e está um calor, estou quase virando um cachorro quente.
Bye... bye ou melhor au.. au. Fui!
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