Valéria Gurgel
Passamos a vida toda buscando chegar ao topo.
Almejamos avidamente encontrar o caminho da tal Montanha Encantada. Lutamos bravamente, vencemos obstáculos, atravessamos fronteiras. Estudamos mapas, demarcamos rotas, calculamos os desafios, menos o custo benefício para chegarmos lá!
Lá onde tudo é belo.
Lá onde o sol brilha mais.
Lá onde o céu é mais azul.
Lá onde os problemas serão solucionados.
Lá onde a abundância se faz morada.
Lá onde a calmaria nos faz companhia.
Lá onde a paz nos espera.
Lá onde só se pode ouvir a voz do silêncio.
Lá onde os pássaros cantam para o vento.
Lá onde o medo perde a razão.
Lá onde muitos querem estar, pela simples vaidade da conquista.
Para apreciar a grandeza da vida ou se perder nas próprias finitudes?
É lá, no alto, no topo da Montanha Encantada, que o encatameto se desfaz...
E se percebe muito pequeno, quase invisível pelos demais que seguem aplaudindo ou criticando a sua dura escalada.
É lá, bem no alto, aonde poucos podem estar que entendemos a verdadeira importância de se fazer uma caminhada, consciente, passo a passo, atentos, desfrutando cada detalhe do percurso. Nem sempre o prazer reside em focar somente a chegada.
É lá, quando alcançamos o topo dessa montanha que percebemos que tudo o que mais precisamos naquele exato momento é começar a descer. Pois já não há como subir além.
E é na descida que apredemos!
Porque é necessário descer do topo para enxergarmo-nos de dentro para fora e de fora para dentro. Entender que somos todos iguais e que necessitamos uns dos outros sempre.
Aprender a compartilhar com humildade os tombos, os erros e os acertos, as experiências vividas no trajeto rumo a escalada do viver, com os demais que ficaram para trás a nos esperar, ou a nos assistir, é sinônimo de fortaleza.
De que adianta o pódio sem termos com quem partilhar e celebrar essa grande vitória?