Valéria Gurgel
A Linha da vida não é reta
Mal nascemos e recebemos um novelo
Ao embolarmos o discernimento
Um ninho de gato vai se formando
Perdem-se as pontas dos laços de afetos
Damos nós cegos na nossa insensatez
O fio se engrossa e complicado fica acertar
O estreito buraco da agulha mais uma vez.
Costurar as histórias de vida nem sempre é fácil
Enruga-se os ânimos do pano nos bastidores
O branco tecido se amarela pelos dissabores e desilusões.
Lava-se o medo e alveja-se sorrisos, engoma-se a coragem
Passa-se com ferro quente e a vapor, o dissabor
O lado avesso de nossas versões não arrematadas
Há quem remende sofrimentos em cores vivas de resiliência
Há quem borde flores vermelhas nos vazios existenciais.
O inacabado de nós no cesto de vime espera o desembolar do novelo
Reencontrarmos as duas pontas do fio da vida é preciso
Para reerguermos a tapeçaria alegremente
Que a imaturidade não espete mais a ponta de nossos dedos.