Valéria A Gurgel
Ando de encontro com a minha maturidade literária! Não pelo desejo de encontrar-me com a perfeição, sei que ela não é deste mundo! Já não me sinto atada às métricas e regras ditadas pelas academias da intelectualidade! O que desejo mesmo é apenas expressar os meus sentimentos. Assim se tornarão materializados. Quiçá minha forma de ser imortal?
Não mais me atenho à crenças limitantes que venham tolir minha livre expressão do meu eu reflexivo, do.meu eu imaginário, dialético ou não, eclético talvez, surrealista, subjetivo ou sonhador....
Hoje acolho o meu Dinivos ócios, tão abordado por Platão e que ainda segue incompreendido e recriminado por muitos. Mas são esse os "divinos ócios que nutrem meu auto conhecimento diário, porque necessito me conhecer, para ter um bom relacionamento comigo mesmo e me sentir à vontade para abrir a minha mente e o meu coração na entrega de minhas inspirações.
Há quem ainda enxergue o escritor, o poeta, como um nadista. Mas, somos nós, os responsáveis por materializarmos o pensamento humano.
Tento ao máximo fltrar meus pensamentos para que não contaminem minhas atitudes e comprometam o que escrevo. Porque a bem da verdade confesso, escrevo primeiramente para mim mesma, como uma forma de policiar-me, de auto lapidar-me no largo processo de tentar me tornar verdadeiramente humana.
A minha resposabilidade com a escrita já data de muitas décadas e nunca me sinto pronta. Escrever é um exercício diário, vital e salutar e vai muito mais que um mero prazer.
Escrever me ajuda a melhorar- me interiormente, expulsar os demônios do meu inconsciente.
Ainda que sutilmente, lentamente, lapidar meu caráter, podar minhas mazelas que o ego insiste em nutrir, tentando impedir que floresçam minhas virtudes.
Até me permito brincar com as palavras, no âmbito de reinventá- las para metamorfozear a razão. Mas, não durmo sem buscar a percepção de cada segundo vivido do meu presente!
Minha vida é o meu celeiro, onde armazeno sutilezas de minhas criações...
E numa folha qualquer não desenho sóis amarelos, eu simplesmente escrevo e isso é atemporal. Independente dos dias nublados, chuvosos, de noites de lua cheia, de céu estrelado ou no escuro sombrio de meus ais...
Escrevo num momentoo que não tem hora para acabar e rascunho o agora do meu amanhã que não tem dia para começar. Não aceito o depois para o meu agora nem o antes para o que já passou. Somente vivo e registro o sentimento das minhas percepções. Sejam alegres ou tristes, divertidas ou sem graça, a escrita existe e isso é bom.
Porque a inspiração está além e aquém de mim e creio eu, de todos nós que nos propomos a comprometer as mãos com o silêncio das palavras, que expressam mais que as nossas bocas.
É assim que busco refletir com o meu eu escritor, de ser e de viver nesse mundo que às vezes me parece mais um faz de conta...
Mas, se acontecer de alguns de meus pensamentos registrados tocarem um leitor a refletir, a concordar, ou discordar de minhas palavras, repensar seus valores e qual é o seu real papel aqui neste planeta, ou inspirá- lo a escrever também, bem, aí já valeu a pena a minha mera intenção.
Talvez seja essa a minha maior missão, incitar, nós, os seres racionais a trabalharmos mais o sentimento, as emoções e menos a razão. Refletirmos para ampliar as nossas consciências.
Todos temos uma palavra que precisa ser dita ao mundo. Eu busco dar o meu recado. Sim, esse é o meu maior propósito de vida.
E você, qual é a sua palavra que precisa ser dita, escrita, deixada ao mundo?