Valéria Gurgel
"Ficção, Romance, Emoção, Aventura e suspense"
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Textos

A ARTE NA ARQUIBANCADA

Valéria A Gurgel

04/02/2025

É fato. A Arte de nosso país anda merecendo mal, mal um mero lugarzinho na arquibancada!

 

Aporofobia, xenofobia, racismo, etarismo e mais quantos ismos e bias precisamos suportar?

E isso não é de agora. Não é de hoje que sentimos na pele o descaso, a falta de oportunidade, de valor e de reconhecimento a cada um de nós.

 

Os artistas com esse poder criativo em evidência e esse espírito de pura entrega, merecem respeito. E quando se trata de um artista preto, ou pobre, ou idoso, ou LGBTQIAPN+, ou portador de uma necessidade especial, a discriminação se torna visivelmente escancarada.

 

Muitos não querem ver, nem admitir, mas, todo artista é bálsamo para a humanidade.

É sempre nas artes que todos se refugiam. Nos momentos de alegria ou de tristeza, de prazer ou de dor. Quer prova maior do que foi a arte no período de Pandemia mundial? E foi o período em que a maioria dos artistas, principalmente os que ainda vivem no anonimato, passaram a fase econômica mais difícil e sofrida de suas vidas!

 

Mas, ainda assim, a arte resiste e está presente. E é sempre ela que nos traz alívio. É sempre ela que fala a língua mundial. Que trabalha as emoções de todos os povos, de todos os seres vivos sem distinção de reinos, raça, de espécie, de etnia, de gênero. É ela que nos cura de nós mesmos e das dores do mundo.

 

Diante a esse celeiro produtivo, numa terra fértil de talentos, poucos são os que conseguem um lugarzinho ao sol. O reconhecimento digno de sua competência, para se destacar entre os milhares de artistas espalhados do Oiapoque ao Chuí e nos quatro cantos da Terra.

 

Raríssimos são os que recebem um saldo fidedigno por sua entrega e dedicação ao mundo, em vida! Há quem ainda afirma que a arte não é uma profissão! Porque é quase impossível sobreviver da arte em nosso país.

 

Lamentavelmente, a maioria morre antes de ver esse sonho do respeito e do reconhecimento serem realizados, enxergado e sentido. Enterram-se o artista, seus sonhos e suas obras de arte. Enterram-se sim, a própria vida dele, vivida e manifestada pela arte.

 

Quantas milhares de pessoas jamais nessa vida, terão o direito e o prazer de conhecê-los e desfrutar de seus incalculáveis talentos!

Tudo isso por faltar apoio, oportunidades e um olhar atento de quem poderia acreditar, investir abrir os braços, valorizar.

 

Nem sempre encontraremos por aí grandes artistas vivendo em berços de ouro e vestidos de púrpura!

A maioria dessas joias raríssimas, seguem sobrevivendo por aí, pelas praças, pelos vilarejos pequeninos. Só um chapéu sabe contar…

Saem carregando em suas malas, seus livros, seus instrumentos musicais, suas telas, suas tintas, maquiagens, seus figurinos, seus sonhos, sua esperança e seus lamentos… cortando estradão, faça chuva, faça sol.

 

“Foi nos bailes da vida ou num bar em troca de pão, que muita gente boa pôs os pés na profissão”!

Frase muito verdadeira composta e cantada por nosso rei Milton Nascimento e que traduz a vida e a realidade de muitos artistas, dele mesmo. E dentre tantos, eu mesma, que já vivi boa parte de minha vida nessa mesma situação.

 

Milton, assim como muito mais de um terço de nossos artistas, também veio de família simples do nosso Brasil. Ele não precisa provar mais nada! O seu reconhecimento vem de todo aquele que entende o tamanho de seu legado presenteado ao mundo.

 

Mas, quando pensamos que já estava mais que provada a sua competência e valor, assistimos uma cena que revoltou, mas que descortinou a dura realidade. O descaso e a falta de respeito que se tem em nossas sociedades atuais, com todo ser humano, quando encerra sua carreira, seja ela qual for.

 

Para quem deseja ler, um pingo é letra! Para quem deseja enxergar, respeitar e agradecer, sempre haverá motivo, sempre haverá um valor!

Para esse alguém que semeou e germinou as sementes da arte pelo mundo, com toda sua entrega e dedicação, deveria haver um espaço digno.

 

Mesmo quando esse plantio é pequeno, simples, mas, se foi entregue com amor, precisa ser reconhecido e valorizado! Não deveríamos deixar de ser quem somos ou significar algo de grande valor aos demais, depois que tudo passa!

 

Depois que os anos vão levando de nós a força das pernas, o viço da pele, o brilho nos olhos, o timbre potente da voz, a destreza das mãos e dos gestos, a resistência dos músculos, a flexibilidade do corpo e seu gingado rítmico, a memória de sua história de vida…

 

Os anos não apagam o brilho da aura de todo aquele que tem poder criativo.

Recentemente o mundo assistiu a uma cena que nos feriu a alma, chocou expectativas, mas, mostrou ao mundo ao vivo e a cores, a identidade real de nossa sociedade contemporânea!

 

Isso é a maior prova da falta de respeito aos gigantes de nosso Brasil, aos negros, aos indígenas e os verdadeiros artistas que construíram a arte, a história, a gastronomia e a cultura de nossa terra!!!

 

Dessa vez, foi com um ícone de nosso país, simplesmente nada mais, nada menos que Milton Nascimento, o nosso queridíssimo BITUKA.

Ele, idoso, lutando corajosamente para vencer as enfermidades e suas limitações decorrente dos seus largos anos de vida. Imagina o seu desafio ao viajar horas em uma aeronave, para participar do evento do Grammy Latino!

 

Esteve ao lado da Cantora de Jazz, Esperanza Spalding, estadunidense, na qual concorria ao Grammy, com seu álbum “Milton + Esperanza, gravado e lançado em 9 de agosto de 2024, em parceria com nosso Mestre da MPB.

 

A não confirmação de um lugar de assento em uma cadeira junto à mesa dos demais ilustres convidados, disse tudo! A ele ficaria destinado se sentar na arquibancada local!

 

Sem estrutura física e devido à sua idade já avançada e diversas limitações, ele e sua equipe, decidiram por segurança, e para manter a sua integridade física e emocional, se retirarem do evento.

 

Situação inesperada e mesmo inviável para ele. Ter que subir os degraus tão altos para se sentar numa arquibancada, sem o mínimo conforto e assistir dali o transcorrer da apresentação da noite.

 

São aquelas chamadas “terríveis falhas humanas” e da organização de eventos! Acontecem, mas, não deveria! Sabemos que ninguém é perfeito, não existem eventos perfeitos. Mas, há certas falhas que não deveriam nem poderiam acontecer, porque elas são simplesmente irreparáveis, inesquecíveis, inadmissíveis!

 

É lamentável!

Uma vergonha para os organizadores do evento e seus convidados, que perderam a grande oportunidade de ter presente, e junto a eles, um ícone da Música Popular Brasileira!

 

Talvez, eles ainda não entenderam o que isso significa! E não aprenderam a valorizar O SER HUMANO por um todo!!!

 

Milton Nascimento é muito mais que tudo isso!

Ele é, e seguirá sendo uma Lenda, um símbolo de resistência, um

Patrimônio Cultural de nosso país e do mundo!

 

O espaço que ele ocupa vai muito além de uma mera cadeira em uma noite de glamour e honrarias, ele ocupa o coração de nosso Brasil!

 

A Arte não envelhece, mas, o descaso costuma se esquecer disso e mantê-la na arquibancada!

Valéria Cristina Gurgel
Enviado por Valéria Cristina Gurgel em 04/02/2025
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